Nas dobras da
Memória


Introdução

A pesquisa é baseada em relatos orais e literatura amazônica, focando na história da Vila Japiim e suas tradições. Dividida em três partes, abrange temas como genealogia familiar, desbravadores, cultura religiosa, educação e o ciclo da borracha. O estudo ressalta a importância da memória e da história local na compreensão da identidade amazônica. A pesquisa também destaca a contribuição dos nordestinos na construção da região e a importância de preservar essas histórias para futuras gerações.


Cultura Amazônica: isolamento e identidade

João de Jesus Loureiro nos ensina em seu clássico da literatura regional, A cultura amazônica: uma poética do imaginário (1994), que “a economia da Amazônia, excetuando as áreas mais ou menos pontuais de criação de gado, desde o século XVIII baseava-se na exploração das “drogas do sertão”, isto é, de certas plantas da floresta que atendiam a finalidades diversas e que eram exportadas para a Europa; algumas serviam à conservação, ao preparo ou fabricação de alimentos - cravo, canela, pimenta, raízes aromáticas, cacau, etc.; outras atendiam à farmacologia da época, como salsaparrilha no combate a sífilis; além disso, exportava-se a borracha, que depois se destacou como um produto especialmente procurado.

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“A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando estes existem. Mas pode fazer-se, deve fazer-se sem documentos escritos, quando não existem. Com tudo o que a habilidade do historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel, na falta das flores habituais. Logo, com palavras. Signos. Paisagem e telhas. Com as formas do campo e das ervas daninhas. Com os eclipses da lua, com os exames de pedras feitos pelos geólogos. E numa palavra, com tudo que, pertencendo ao homem, depende do homem, serve o homem, exprime o homem, demonstra a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem" (Febvre, 1949).

A Importância das Mulheres Parteiras da Vila Japiim

No seringal, às margens dos rios, ou nas casas da modesta Vila, quando uma mulher “dava à luz” uma criança, a rotina da casa passava por uma profunda transformação. Nas primeiras dores da parturiente, a parteira era chamada às pressas. O barulho das outras crianças que, naquele tempo, naturalmente eram muitas na maioria das famílias, era interrompido por um repentino silêncio, a nova ordem da casa, ou pelo choro pueril do recém-nascido, que somente após alguns dias era apresentado aos irmãos. A criançada era mandada para a casa de tios ou dos avós por uns dias.

A mãe, em “resguardo”, ficava de quarentena sob os cuidados de mulheres mais experientes, amigas ou da família. A alimentação era regrada e à base de galinha caipira ou algum peixe reconhecidamente não “reimoso”. O centro desses momentos de tensão e alegria nos lares da antiga Vila eram as mulheres parteiras, que com altruísmo, coragem e humanidade, exerciam o nobre trabalho de trazer ao mundo muitas vidas, numa época em que os serviços médicos de acompanhamento da gravidez e do parto não existiam ou eram escassos.

Essas mulheres desempenhavam um papel vital na comunidade, não apenas ajudando no nascimento das crianças, mas também oferecendo suporte emocional e físico às novas mães. Elas eram um pilar de força e conhecimento, garantindo que a tradição e a sabedoria ancestral fossem passadas de geração em geração. Em muitos casos, as parteiras eram também curandeiras, conhecendo os segredos das ervas e remédios naturais que ajudavam no processo de recuperação pós-parto.

A presença dessas parteiras era uma garantia de que a comunidade poderia continuar a crescer e prosperar, mesmo em meio às adversidades. A sua dedicação e sacrifício são lembrados com gratidão, e suas histórias são um testemunho do poder e da resistência das mulheres na construção da história e da identidade cultural da Vila.

Mulheres Parteiras

  • Mãe Chiquinha Maior

  • D. Alda Gadelha

  • D. Amélia

  • D. Avelina

  • D. Moça

  • D. Mª Luísa

  • D. Chica Tomé

  • D. Georgia Pinto

  • D. Joana

  • D. Mª Luís

  • D. Otília

  • D. Preta Naziozeno

  • D. Argentina

  • D. Maria Tibúrcio

  • D. Senhorinha Miguel

  • D. Anália Araujo (Neném)

Em 1860, o cientista Chandelss explorou o rio Juruá. Entre 1877 e 1879, ocorreu o primeiro êxodo de cearenses devido à seca. A cidade de Cruzeiro do Sul foi fundada em 1904 e, entre 1880 e 1912, seringais foram estabelecidos nos rios Juruá e Moa, atraindo muitos seringueiros. Em 1912, o povoado de Japiim foi elevado à categoria de Vila pelo prefeito do Alto Juruá, Capitão Rego Barros. Entre 1912 e 1977, a Vila Japiim se desenvolveu significativamente, com a criação de escolas, delegacia, cartório e juizado de paz, além de uma forte comunidade agroextrativista.